
IMÃ - Instituto Mãos no Arado
CNPJ: 23.108.477/0001-90
Rede de Proteção Integral e Prevenção às violências e às drogas em Angra dos Reis como sugestão de parceria entre Sociedade Civil e Governo Municipal 2021
Introdução:
A mudança de olhar em relação aos
direitos de crianças e adolescentes no Brasil foi uma mudança de perspectiva
que aconteceu ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Ela foi fruto das
discussões anteriores ao estatuto que se realizaram pelo mundo todo e que
culminaram na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que se
constitui em um importante tratado internacional aprovado pela Assembleia Geral
das Nações Unidas.
O conceito de criança enquanto
sujeito de direitos, que passou a ser elaborado em âmbito nacional e
internacional, rompeu com os paradigmas sociais e com os marcos legais postos,
contradizendo tudo que já fora construído até então sobre a infância. A partir
daí, o trato com a criança e com o adolescente passa a exigir uma lei que se
adéqua a essa nova forma de percebê-los e de ouvi-los, que se baseia nos
princípios da dignidade, da igualdade de direitos e de respeito às diferenças.
Dentro do plano do respeito à
diferença, é preciso reconhecer que crianças e adolescentes são diferentes dos
adultos. Contrariamente ao que se acreditava que a criança era um mini adulto,
ela passa a ser vista como ser humano em fase especial de desenvolvimento e
precisa ter sua dignidade respeitada.
A nova concepção de criança, como
sujeito de direitos substitui as anteriores enquanto modelo de lei,
fundamentado na Doutrina da Proteção Integral. Sob este novo ponto de vista, a
lei passa a valer para todas as crianças em qualquer situação, sem distinção,
deixando de ser eminentemente repressiva e, portanto, reativa, para ser,
principalmente protetiva, e consequentemente, preventiva, passando a
preocupar-se com a efetivação integral e universal dos direitos.
Em 1987 foi instalada a Assembleia
Nacional Constituinte responsável pela elaboração da nova Constituição do país,
a chamada Constituição Cidadã de 1988, que trouxe uma série de avanços legais
em várias áreas: direitos humanos, meio ambiente, participação popular e em relação
às crianças e aos adolescentes.
Durante a vigência da Assembleia
Nacional Constituinte, o movimento de infância, através dos setores da
Sociedade Civil e ONGs, mobilizou-se pela criação de uma política para crianças
e adolescentes, criando o Fórum Permanente de Identidades Não-Governamentais de
Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (Fórum DCA) o que foi o
interlocutor da Sociedade Civil no Congresso Nacional. Essa articulação
contribuiu para inclusão dos artigos 227 e 228 na Constituição Federal.
Dois anos depois era promulgado o
Estatuto da Criança e do Adolescente, detalhando quais são os direitos das
crianças e dos adolescentes: como sua proteção será organizada; as
responsabilidades do Estado, da família da comunidade, da sociedade; como serão
tratados os adolescentes em conflito com a Lei; e ainda, estabelecendo penas
para crimes praticados contra crianças e adolescentes. Nele foram apresentados
órgãos como o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente que tem
participação paritária entre representantes da Sociedade Civil e do governo e
os Conselhos Tutelares que contam com representantes eleitos pela população dos
bairros.
Entendemos que as garantias e
prerrogativas inerentes à criança e ao adolescente, seja ela infratora ou não,
só serão devidamente efetivadas a partir do momento em que os órgãos
internacionais e as leis notificadas pelas legislações nacionais forem
integralmente priorizados e cumpridos. "Ser sujeito de direitos é a principal
característica da Doutrina da Proteção Integral" (SEGUNDO, 2010
apud Santos, ODH PL).
Justificativa:
Todas as ações a que a instituição
se propõe, visam prioritariamente à prevenção, pois acreditamos que se a
sociedade civil organizada e o governo unirem esforços para promover ações
integradas e que potencializem as habilidades e despertem as inteligências e a
criatividade, as crianças de hoje chegarão à adolescência e os adolescentes à
juventude e idade adulta, tendo perspectivas e alternativas outras que os
mantenham longe das drogas e menos vulneráveis a outras situações de risco
social.
Estamos enquanto Organização da
Sociedade Civil nos colocando a disposição para junto com todos os demais
setores da sociedade, promover uma incidência política a fim de buscar a
transparência das ações e políticas públicas governamentais como forma de
avaliar se o Orçamento Criança e Adolescente está sendo empregado de acordo com
as legislações nacionais e internacionais.
Nessa tarefa, o Poder Legislativo
tem um papel primordial, pois segundo documento consultado, “Apostila Projeto
Legal” organizado por Marta Sorvi dos Santos, a Lei de Orçamento Anual (LOA)
que reúne os projetos e atividades, acompanhados das respectivas despesas,
constitui a base para a pesquisa e apuração do Orçamento Criança e Adolescente
(OCA). Esta lei é enviada para o legislativo para apreciação e aprovação até
quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro, ou seja, até o dia
30 de setembro em grande parte dos estados e municípios.
O Poder Legislativo através de seus
parlamentares deve analisar e aprovar o orçamento, pois este deverá entrar em
vigor no primeiro dia de janeiro do ano seguinte. Cabe aos parlamentares a
atribuição de fazer emendas à proposta do Executivo, indicando simultaneamente
de onde são retirados os recursos e para onde devem ser transferidos. Estes não
podem movimentar recursos destinados a pessoal e encargos, serviço da dívida
e/ou transferências tributárias constitucionais. Por outro lado, eles podem,
por exemplo, aprovar uma emenda que transfere recursos destinados à construção
de uma praça para a construção de uma escola.
É necessário que nossos
parlamentares exerçam seu papel de fiscalizadores das ações do Poder Executivo
no que tange à execução orçamentária, ou seja, a verificação do que realmente
foi gasto para a promoção e o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.
Nesse movimento cabe realizar audiências públicas com toda a sociedade para que
haja transparência na execução orçamentária.
"O
Orçamento Criança e Adolescente é o resultado da aplicação de uma metodologia
para demonstrar e analisar o gasto público com crianças e adolescentes. Não é
um documento, nem mesmo conceito oficial. Sua concepção se orienta pelo
princípio de que uma sociedade justa, uma economia forte e um mundo sem pobreza
só serão possíveis com um investimento na criança e respeito aos seus
direitos." (UNESCO, 2005).
Existe ainda o orçamento do Fundo
para Infância e Adolescência (FIA). Cabe à sociedade civil acompanhar as ações
previstas no Plano de Ação do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente a
fim de que a verba do FIA seja devidamente utilizada para os seus fins. Em
contrapartida, a sociedade deve ser esclarecida e mobilizada a realizar doações
ao FIA através da dedução em seu Imposto de Renda, seja Pessoa Física ou
Jurídica, com campanhas permanentes, pois a população em sua maioria desconhece
essa possibilidade de investimento no referido Fundo.
Nosso pilar é a PREVENÇÃO. Mas, o que é PREVENÇÃO? Segundo o Dicionário
Aurélio, prevenir significa
"preparar; chegar antes de; evitar (um dano ou um mal); impedir que algo
se realize". Entendemos que para realizar um trabalho de prevenção
sério e cuidadoso, com um determinado grupo, é necessário:
* Identificar fatores de risco, para minimizá-los;
* Identificar fatores de proteção, para fortalecê-los;
*Tratar o grupo como
específico, para identificar os fatores acima.
FATORES RELACIONADOS AO USO DE DROGA
Fatores Pessoais |
|
De proteção |
Habilidades sociais |
De risco |
Insegurança Sintomas depressivos Curiosidade |
Fatores Familiares |
|
De proteção |
Pais que acompanham as atividades
dos filhos |
De risco |
Pais que fazem uso abusivo de
drogas Pais que sofrem de doenças mentais Pais excessivamente autoritários Pais muito exigentes Famílias que mantêm uma cultura
aditiva (forma de viver de uma família na qual as soluções são dadas
como formas de impedir a reflexão) |
Fatores Escolares |
|
De proteção |
Bom desempenho escolar |
De Risco |
Baixo desempenho escolar Falta de regras claras Exclusão social Falta de vínculos com a
aprendizagem |
Fatores Sociais |
|
De proteção |
Respeito às leis sociais Amigos não usuários de drogas e
não envolvidos em atividades ilícitas |
De Risco |
Violência Amigos usuários de drogas Pressão social para o consumo Desvalorização das autoridades
sociais Descrença nas instituições Falta de oportunidades de trabalho
e de lazer |
Fatores Relacionados à Droga |
|
De proteção |
Informações contextualizadas sobre
efeitos |
De Risco |
Disponibilidade para compra Propaganda que incentiva e mostra
apenas o prazer que a droga causa |
O
que a criança precisa para não entrar no caminho das drogas?
Elas precisam de segurança, de
reconhecimento e aprovação, liberdade de ação e constância, exemplos realistas,
exercícios físicos e alimentação adequada, amigos e um ambiente compreensivo,
sonhos e alvos de vida. Portanto,
ações preventivas devem ser direcionadas às comunidades em situação de risco e
aos problemas decorrentes do uso/abuso de drogas.
Além
dos fatores de risco relacionados ao uso e abuso de drogas há de se considerar:
precárias condições de moradia; presença do tráfico; ausência de perspectivas
de trabalho, de ascensão social e de opções de vida socialmente integradoras.
A
família, como instituição cuidadora e responsável pela transmissão de valores
éticos e morais, é de indiscutível relevância como instituição capaz de
contribuir para a prevenção frente aos inúmeros problemas acarretados pelas
drogas. Se a criança ou o jovem vive em um contexto onde a venda e o
consumo de drogas, por membros da própria comunidade, ocorrem ao redor, e é
testemunhado por estes, o papel da família é fundamental no monitoramento e à
imposição de limites aos filhos.
São
formas ou estratégias de prevenção adotadas pelas famílias, em face da
proximidade, do fácil acesso e dos riscos de envolvimento com suas
consequências para o indivíduo, família e comunidade. Nessas circunstâncias, é
de suma importância o papel dos pais, no intuito de apreender a percepção das
expectativas e o cumprimento, ou não, das regras estabelecidas pela família,
minimizando a oportunidade de uso/abuso de drogas.
Para
a Organização Mundial de Saúde (OMS), têm menor risco de uso abusivo de drogas,
os indivíduos que pertencem a uma família bem integrada entre si, e com a
sociedade, que contam com fatores protetores, como estar bem informado, ter
qualidade de vida, ter difícil acesso às drogas, conviver em um lar harmônico,
receber o alerta precoce dos pais e, em especial, das mães, associado à
percepção e observação direta e clara dos danos físicos e morais decorrentes do
envolvimento com as drogas.
Conhecendo
o Adolescente através da neurociência
O que a violência tem a ver com a
delinquência e as drogas?
A
Organização Mundial da Saúde (WHO, 2002) define a violência como o uso
intencional de força ou poder físico, sendo somente uma intimidação ou ato
efetivo contra si próprio, outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que
resulte em ou tenha uma alta probabilidade de danos, mortes, prejuízos
psicológicos, que impeça um desenvolvimento ou que este seja insatisfatório.
A
delinquência pode ser considerada como resultado de problemas na vinculação
social do jovem com instituições como a família e a escola, entre outras. Tendo
em vista que estas instituições são as representantes das normas sociais, o
desenvolvimento da "delinquência
juvenil" estará associado com o maior ou menor controle que estas
instituições exercem sobre o jovem.
Sendo
a família uma instituição de controle social, a existência de fragilidades
nesse convívio, acarreta dificuldades para a vinculação entre o jovem e a
família, o que resulta no enfraquecimento do controle sobre o comportamento do
adolescente. O risco para o desenvolvimento de comportamentos desviantes se
agrava quanto mais desengajada é a família em suas relações interpessoais.
Os
adolescentes não são cooptados por amigos anti-sociais, mas eles são atraentes
quando os pais não se envolvem na educação que equilibram afeto, atenção e
limites para os filhos. Eles ainda não possuem capacidade amadurecida de
abstração para refletir, avaliar e escolher. Assim, se o grupo ao qual ele faz
parte, seja na escola, na comunidade que mora, ou de parentes próximos, estiver
experimentalmente usando drogas, fazem pressão para ele usar também. Por esse
motivo, desenvolver estudo de fatores de risco para o uso de drogas entre
adolescentes pode auxiliar na detecção precoce dos grupos mais vulneráveis e
medidas de prevenção.
O
álcool e outras substâncias químicas podem funcionar como facilitadores de
situações de violência. Há um uso descontrolado de bebidas alcoólicas no mundo
atual e esse fator pode estar contribuindo para o aumento de situações de risco
de violência, principalmente com as crianças e os jovens, que a cada dia tomam
mais conhecimento e acesso as drogas ilícitas.
O
abuso de substâncias e a delinquência no início da infância e adolescência têm
probabilidade de persistir na vida do jovem adulto, o colocando num ciclo que
se perpetua nas famílias mais vulneráveis. O fortalecimento de vínculos com a
família pode ser intermediado de forma preventiva por instituições como a
escola, a igreja, O CRAS, O CREAS, por exemplo.
O
que é a Rede de Proteção para as crianças e adolescentes?
Quando pensamos em um bebê que quer
se debruçar na janela, logo pensamos em colocar uma rede de proteção para que o
mesmo não se debruce e acabe caindo da janela e se machuque. Então, a REDE DE PROTEÇÃO age de forma
preventiva e visa atender ao disposto nas leis vigentes.
O
que compõe então esta REDE DE PROTEÇÃO INFANTO JUVENIL?
São instituições públicas
governamentais, instituídas pelo nosso sistema de governo democrático que
garante por Lei a Proteção Integral da
Criança. Essas instituições defendem o DIREITO e a PRIORIDADE das
necessidades das CRIANÇAS e ADOLESCENTES, conforme o que diz o Artigo 227 da
Constituição Federal: “É dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Se já não bastasse a clareza solar
do texto constitucional acima transcrito, que de maneira expressa impõe ao
Poder Público uma atuação não apenas prioritária na área infanto-juvenil, mas
em regime de PRIORIDADE ABSOLUTA,
esta ficou ainda mais evidenciada com o advento da Lei nº 8.069/90, que já em
seu art. 1º explicita seu objetivo precípuo: “Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao
adolescente.” Com efeito, o Estatuto da Criança e do Adolescente, após
praticamente reproduzir em seus Art. 4º, caput e 5º, o enunciado do art. 227,
da Constituição Federal, no parágrafo único de seu art. 4º procurou melhor
detalhar e explicitar o que deve compreender a garantia de PRIORIDADE ABSOLUTA contida no citado texto Constitucional. E vai
além:
“...
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a)
primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b)
precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c)
preferência na formulação e a execução das políticas sociais públicas;
d)
destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
Art.
5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido
na forma da Lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.”
Através dos referidos textos da
nossa Constituição Federal e do Estatuto, podemos perceber as responsabilidades
hierárquicas da sociedade e da instância governamental em cuidar e proteger à
criança e ao adolescente. É responsabilidade de todos protegerem a infância,
para que as crianças tenham um desenvolvimento saudável e feliz, assim serão
adultos conscientes de sua identidade, cidadania e propósito de vida. Para que
isto aconteça todos nós precisamos assumir a nossa responsabilidade perante a
sociedade e perante as crianças e adolescentes.
De acordo com os artigos expostos
anteriormente, existem instâncias de proteção, muros de proteção para crianças
e adolescentes:
1ª
Instância/muro é a FAMÍLIA.
Toda criança nasce em uma família, em um núcleo. Toda criança nasce de um pai e
de uma mãe. Infelizmente nem todo o pai, nem toda mãe ao gerar uma criança
reconhece-a como filho. Infelizmente aqueles que deveriam amar e proteger são
aqueles que praticam as primeiras violências. E a primeira violência é o
abandono e a negligência. E muitas vezes este abandono acontece durante a
gestação do bebê. Esta situação traz mensagens subjetivas para este novo ser
que o mesmo não é quisto, não é querido por aquela família. Neste instante o
corpo da mulher libera hormônio que irá de certa forma trazer prejuízos ao
desenvolvimento do feto, da futura criança.
Quando este primeiro muro de proteção falha ou cai, tem o segundo muro
que é a sociedade.
2ª
Instância/muro é a SOCIEDADE. Podemos subdividir a sociedade em alguns níveis:
●
Os familiares mais próximos da
criança, além dos
pais, como: avós, tios, tias... É a família ampliada. Se os pais não estão
dando conta de cuidar e proteger esta criança, os familiares assumem o papel de
protetores, de cuidadores. E em diversos casos são estes familiares que
denunciam os casos de maus tratos contra as crianças ou adolescentes. Estes
familiares também podem vir fazer este muro virar ruínas quando começam a usar
falas pejorativas com esta criança, como: “Você
vai ser vagabundo igual ao seu pai... Você não presta para nada.” E desta
forma a criança se sente rejeitada e com a falta de preocupação destes
familiares, a criança começa a perambular pela vizinhança e quem vai se
preocupar com esta criança órfã de pais vivos? Se ninguém se manifestar, mais
um muro se rompe...
●
A vizinhança mais próxima, que escuta e observa
que algo naquela família não está bem. Quando nenhum vizinho se incomoda com a
criança solta pela rua, descalça e “abandonada” e não faz nada, se omite, é
mais um muro que desaba e esta criança fica à mercê de abandono e de falta de
cuidados.
●
Igrejas de bairros, Associações
Comunitárias e ONGs. Estes
são a ampliação dos primeiros núcleos de convivência da criança. Nestes lugares
há uma grande movimentação de pessoas e quando estas instituições têm
atividades com as crianças, os educadores ficam muito próximos a elas. É
inadmissível que nenhuma pessoa perceba nenhuma anomalia, nenhum comportamento
diferenciado desta criança. Infelizmente esta situação acaba acontecendo por
parte destes “educadores por falta de conhecimento, por falta de preparo (por
isto, a importância da capacitação para lidar com as crianças de forma
Integral). Voltando a lembrar que é dever de todos É DEVER, É RESPONSABILIDADE
DE TODOS OBSERVAR, AMPARAR, DEFENDER E PROMOVER O BOM ESTADO E DESENVOLVIMENTO
DAS CRIANÇAS. Mas... se nada disto acontece, mais um muro de proteção cai.
Estas são as INSTÂNCIAS
DE PROTEÇÃO. As duas primeiras, não institucionalizadas.
Mas as associações e as igrejas são por serem
registradas e legalizadas.
Segundo o Promotor Dr. Murilo José Diácomo, o
art. 4º, o parágrafo único da Lei nº 8.069/90, acima transcrito, tem suas
alíneas “b”, “c” e “d” expressamente endereçadas ao Poder Público, de modo a
não dar margem para dúvidas acerca do alcance do princípio da prioridade
absoluta insculpido tanto no Art. 4º, caput, do Estatuto da Criança e do
Adolescente quanto no Art. 227, caput, da Constituição Federal. A própria lei,
portanto, ao interpretar a citada norma constitucional, determina que o Poder
Público, para que possa cumprir seu dever elementar de proporcionar a
efetivação dos direitos infanto-juvenis, destine a crianças e adolescentes uma
atenção prioritária que dentre outros fatores importa na precedência de
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; na preferência na
formulação e a execução das políticas sociais públicas, além é claro da
imprescindível destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
3ª
Instância é o ESTADO. Através
do CMDCA - Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, órgão responsável em
promover a Política de Atendimento das crianças de cada município de acordo com
a necessidade da localidade. Para isto é necessário um diagnóstico local. O
CMDCA precisa trabalhar junto com o Legislativo e o Executivo, para sanar as
necessidades de crianças e adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente
deixa claro a responsabilidade deste órgão tão importante.
O Artigo 88 do ECA, além de
descrever as funções do CMDCA, também traz as informações dos outros órgãos que
compõe a Rede de Proteção, como o CT
Conselho Tutelar, Ministério Público, Defensoria Pública e Juizado da Infância.
Estes órgãos precisam estar muito articulados tanto com articulações
pessoais tanto nos programas de articulação de informação.
Outras instituições públicas que
trabalham com a criança e o adolescente:
●
Escolas
●
Postos
de Saúde
●
Ação
Social através do CRAS
●
Secretaria
de Cultura e Esporte, quando oferecem atividades para as crianças.
Estas instituições governamentais
que têm convívio com a criança e adolescente não podem ficar desatentas aos
sinais de violência que são nítidos quando algo não está bem. Mas só consegue perceber
estes sinais se o educador ou o profissional de saúde tiver sido capacitado.
Ainda segundo o Promotor e Dr.
Murilo José Diácomo, a omissão do Poder Público, se constitui na primeira das
causas da chamada “situação de risco” social às crianças e adolescentes em geral
previstas no art. 98, inciso I, da Lei nº 8.069/90, seja por representar
ameaça, seja por caracterizar efetiva violação a seus direitos reconhecidos
pela Lei e pela Constituição Federal, abrindo a possibilidade da tomada de
medidas administrativas e/ou judiciais, inclusive com efeito erga omnes, de modo fazer valer o império da lei e o citado
mandamento constitucional da prioridade absoluta à criança e ao adolescente.
Portanto nós, cidadãos de Angra dos
Reis não vamos mais ficar omissos à situação de risco vivida pelas crianças por
conta da omissão do Estado e como Sociedade Civil, vamos trabalhar com
campanhas e parcerias para que a sociedade faça a sua parte levantando os muros
de proteção que estão caídos.
Algumas
Instâncias Governamentais de Proteção à Criança e ao Adolescente e suas
principais funções/ações:
A Secretaria Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente - SNDCA é responsável pela condução da política nacional de promoção,
proteção e defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Está vinculada à
pasta dos Direitos Humanos, do Governo Brasileiro e possui a função primordial
de apoiar ações intersetoriais, interinstitucionais e interfederativas,
promovendo a articulação de diversos órgãos e sociedade civil.
Entre as políticas que coordena estão o fortalecimento do sistema
de garantia de direitos de crianças e adolescentes; a política nacional de
convivência familiar e comunitária; o Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo - SINASE; o Programa de Proteção de Adolescentes
Ameaçados de Morte e as ações de prevenção e de enfrentamento do abuso e da
exploração sexual.
Também deve propor e incentivar a realização de campanhas de
conscientização pública relacionadas aos direitos da criança e do adolescente.
Coordena ainda a produção, a sistematização e a difusão das informações
relativas à criança e ao adolescente, gerenciando os sistemas de informações
sob sua responsabilidade. O Decreto nº 9.122 de 9 de agosto de 2017, lhe
atribui a competência de formular, coordenar e executar políticas e diretrizes
voltadas à promoção dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
1ª Vara da Família, Infância, da
Juventude e do Idoso:
fiscalização, orientação e apuração de irregularidades de instituições,
organizações governamentais e não governamentais, abrigos, instituições de
atendimento e congêneres.
Comissariado da Infância e Juventude
de Angra dos Reis: O Comissariado da Infância, da Juventude
e do Idoso é um serviço essencial de assessoramento à Justiça da Infância e da
Juventude, cabendo-lhe a fiscalização das normas de prevenção e proteção às
crianças, adolescentes e idosos.
Uma entrevista com comissários de justiça menciona que o
comissário, além de cumprir as obrigações do cargo, deve ser um colaborador
para melhorias do sistema de garantias de direitos, sempre em conjunto com
demais profissionais das comarcas onde atuam. E sempre, claro, em sintonia com
o juiz responsável pela Vara.
Ministério
Público
São atribuições do Ministério Público na área da Infância e da
Juventude:
· A promoção do inquérito civil e da
ação civil pública para a proteção dos interesses das crianças e dos
adolescentes, como, por exemplo, os direitos à vida, à saúde, à educação, à
convivência familiar e comunitária, entre outros;
· A instauração de sindicâncias, a
requisição de diligências investigatórias e a determinação da instauração de
inquérito policial para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção
à infância e à juventude;
· A fiscalização das entidades
públicas e particulares de atendimento e dos programas voltados ao público
infanto-juvenil;
· A fiscalização do processo de
escolha e da atuação dos membros dos Conselhos Tutelares;
· A promoção e o acompanhamento dos
procedimentos relativos aos atos infracionais atribuídos a adolescentes.
Tendo como um de seus principais objetivos garantir a eficiência e
a eficácia da atuação ministerial na área infanto-juvenil, a Procuradoria-Geral
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro criou o 4º CAO - Centro de Apoio
Operacional das Promotorias da Infância e da Juventude, e a Assessoria de
Proteção Integral à Infância e à Juventude (APIIJ), órgãos auxiliares da
atividade funcional do Ministério Público.
Conselho
Tutelar
O conselho tutelar foi criado conjuntamente ao ECA, instituído
pela Lei 8.069 no dia 13 de julho de 1990. Órgão municipal responsável por
zelar pelos direitos da criança e do adolescente. Formado por membros eleitos
pela comunidade para mandato de três anos, o Conselho Tutelar é um órgão
permanente (uma vez criado não pode ser extinto), possui autonomia funcional,
ou seja, não é subordinado a qualquer outro órgão estatal. A quantidade de
conselhos varia de acordo com a necessidade de cada município, mas é
obrigatória a existência de, pelo menos, um Conselho Tutelar por cidade,
constituído por cinco membros.
Segundo consta no artigo 136 do ECA, são atribuições do Conselho
Tutelar e, consequentemente, do conselheiro tutelar, atender não só as crianças
e adolescentes, como também atender e aconselhar pais ou responsáveis. O
Conselho Tutelar deve ser acionado sempre que se perceba abuso ou situações de
risco contra a criança ou o adolescente, como por exemplo, em casos de violência
física ou emocional. Cabe ao Conselho Tutelar aplicar medidas que zelem pela
proteção dos direitos da criança e do adolescente.
Apesar de muitas pessoas acharem o contrário, o Conselho Tutelar
não tem competência para aplicar medidas judiciais, ou seja, ele não é
jurisdicional e não pode julgar nenhum caso. Exemplificando: quando um
adolescente (12 a 18 anos) comete um ato infracional (crime), quem deve ser
acionado para o atendimento é a Polícia Militar, e não o Conselho Tutelar. Este
sim deve ser chamado quando o mesmo ato infracional for cometido por uma
criança (com até 12 anos de idade incompletos). Por se tratar de um órgão,
parte do aparato de segurança pública municipal, não pode agir como órgão
correcional. Em resumo, é um órgão ‘zelador’ dos direitos da criança e do
adolescente. Não é função do Conselho Tutelar fazer busca e apreensão de
crianças e/ou adolescentes, expedir autorização para viagens ou desfiles,
determinar a guarda legal da criança.
O conselheiro tutelar deve sempre ouvir e entender as situações
que lhe são apresentadas por aquele que procura o Conselho Tutelar. Somente
após a análise das situações específicas de cada caso é que o conselheiro deve
aplicar as medidas necessárias à proteção dos direitos da criança e/ou adolescente.
Cabe ressaltar que, assim como o juiz, o conselheiro aplica medidas, ele não as
executa. Portanto, o interessado deve buscar os poderes necessários para
execução dessas medidas, ou seja, poder público, famílias e sociedade.
É imprescindível que o conselheiro tutelar seja capaz de manter
diálogo com pais ou responsáveis legais, comunidade, Poder Judiciário e
Executivo e com as crianças e adolescentes. Para isso é de extrema importância
que os eleitos para a função de conselheiro tutelar sejam pessoas comunicativas,
competentes e com capacidade para mediar conflitos.
Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
O Plano Decenal Municipal de
Atendimento Socioeducativo da cidade de Angra dos Reis (2015-2024) traz como
princípios:
* a prática de atos infracionais por
adolescentes, especialmente quando decorrente das desigualdades sociais, pode
ser modificada por meio de ações preventivas e da ampliação e integração de
políticas públicas setoriais, tais como: saúde, educação, trabalho e cultura
turismo esporte e lazer, que em seu pleno desenvolvimento, promovam o
atendimento das necessidades interesses e habilidades dos adolescentes.
*os programas de atendimentos
socioeducativos devem garantir o acesso do adolescente aos serviços, programas
e projetos necessários a superação de sua condição de exclusão e a todos os
recursos que possibilitem o exercício da cidadania.
*os serviços educacionais, sociais,
de saúde, esportivos e de lazer e culturais existentes no município constituem
uma rede de atendimento que precisa ser articulada e organizada para atender as
necessidades dos adolescentes, garantindo-se que o acesso a esses se dê,
preferencialmente, por meio de equipamentos sociais da comunidade onde residem
ou das proximidades do local de cumprimento da medida.
Cabe aqui destacar algumas
diretrizes do referido plano:
*Incentivo ao protagonismo,
participação e autonomia dos adolescentes;
*Criação de mecanismos de prevenção,
mediação de conflitos e práticas restaurativas;
*garantia de oferta e acesso à
educação de qualidade, atividades esportivas de lazer e cultura e
profissionalização.
Analisando alguns princípios e
diretrizes do Plano Decenal podemos
perceber que as políticas públicas e ações nele previstas devem e precisam ser
pensadas como prevenção aos atos infracionais e situações de vulnerabilidade e
não apenas quando esses adolescentes já estejam envolvidos no ato infracional.
Os textos do plano são bem claros e
evidenciam a visão protetiva e preventiva defendida até aqui. Defendemos que
essas ações preventivas, a integração das políticas públicas setoriais, a
garantia do acesso de nossas crianças e adolescentes aos serviços descritos é
que vão minimizar as desigualdades sociais e a prática dos atos infracionais,
pois promoverão o desenvolvimento integral do adolescente e o exercício da
autonomia e da responsabilidade para que ele possa vislumbrar um novo projeto
de vida de acordo com a sua singularidade.
Analisando algumas ações propostas
no Plano de Ação e Aplicação dos Recursos do Fundo Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente (FMDCA), do ano vigente, percebemos descrições vagas
acerca dos projetos mencionados. Os projetos são mencionados de forma genérica,
com expressões até enfáticas como: mobilização, potencialização, ampliação, fortalecimento...
Mas a maioria não apresenta descrição detalhada de como o projeto será
realizado/desenvolvido. Sem o detalhamento fica difícil compreender e estimar o
valor do recurso que será empreendido na execução do mesmo.
Percebemos a ausência de itens como:
calendário com prazos de execução das ações (tempo estimado), estratégias e
ações mais concretas, de que forma os órgãos responsáveis executarão tais
ações, avaliação das ações, ...
No quadro abaixo, procuramos elencar
ações e projetos mencionados nos referidos documentos e relacionamos algumas
propostas concretas de como operacionalizar esses projetos, de forma que os
recursos humanos, comunitários, governamentais, institucionais e
naturais/ambientais que temos disponíveis em nosso município possam estar a
serviço de um atendimento qualitativo as nossas crianças e adolescentes,
vislumbrando novas perspectivas de futuro, qualidade de vida através de outros
modelos e vivências.
Ações |
Observações |
Proposições |
1-Ações Fundamentais: *Diagnóstico da situação da Criança e do
adolescente no município. *Divulgação das ações executadas pelo CMDCA. *Capacitação dos conselheiros do CMDCA. *Implementação do segundo Conselho tutelar no
município. |
*Esse diagnóstico precisa ser imediatamente
realizado. *Os membros são devidamente esclarecidos sobre
a relevância de seu papel no CMDCA ou cumprem protocolo para garantir quórum
e representatividade? *Urgência na implantação do 2º Conselho
Tutelar devido a abrangência geográfica e demanda populacional. |
*Criação de fóruns de acompanhamento das ações
do CMDCA. *A sociedade precisa acompanhar essas ações
pelos veículos de comunicação, não só pelos Boletins Oficiais. |
2-Ações Comunitárias: *Projetos que fomentem a participação e a
mobilização social dos adolescentes na comunidade. *Projeto de ampliação e potencialização de
recursos para rede de serviços ofertados à criança e adolescentes no
território. *Projeto para desenvolvimento do
fortalecimento de vínculo familiar e comunitário de crianças e adolescentes
retirados do trabalho infantil. *Projeto de ação coletiva para produção de
vídeos e apresentações artísticas nos territórios de maior vulnerabilidade
social. *Projeto que ofertem atividades para melhoria
da qualidade de vida das crianças e adolescentes, com ações focadas no
atendimento preventivo, protetivo e pró-ativo nos locais e ou territórios de
maior vulnerabilidade. *Projeto para as comunidades tradicionais. *Projetos que incentivem ações de protagonismo
e autonomia dos adolescentes (agremiações, associações, etc.) *Projetos para produção de vídeos, teatro,
apresentações artísticas, gincanas e fotografias construídos por e para as
crianças e adolescentes. *Projetos que possibilitem a realização de
ações ligadas à promoção do esporte cultura e lazer e que tenham como foco a
inclusão social e ações preventivas. *Projetos socioeducativos na área do esporte
dirigido a crianças e adolescentes em território de maior vulnerabilidade
social e ou carência de espaços públicos e de lazer. |
Os projetos descritos no plano de ação, não
estão detalhados. Apontamos o que prevê o Plano Decenal Municipal de
Atendimento Socioeducativo, que traz um maior detalhamento, embora não
especifique as ações: *Garantir o acesso do adolescente aos
serviços, programas e projetos necessários a superação de sua condição de
exclusão e a todos os recursos que possibilitem o exercício da cidadania. *Os serviços educacionais, sociais, de saúde,
esportivos e de lazer e culturais existentes no município constituem uma rede
de atendimento que precisa ser articulada e organizada para atender as
necessidades dos adolescentes, garantindo-se que o acesso a esses se de,
preferencialmente, por meio de equipamentos sociais da comunidade onde
residem ou das proximidades do local de cumprimento da medida. *Incentivo ao protagonismo, participação e
autonomia dos adolescentes; |
As associações e igrejas podem aproveitar sua
mão de obra especializada ou não, no contra turno das aulas (e sob observação
e acompanhamento da família) através de projetos com o foco na PREVENÇÃO,
utilizando atividades do interesse das crianças e adolescentes, como: música,
coreografias, danças, artesanatos, leitura, histórias, atividade recreativas
ou esportivas, peças teatrais, hortas,... Recuperação/reforço escolar para
crianças e adolescentes com dificuldades na leitura e escrita no contra turno
das aulas ou mesmo um horário alternativo, mediante oferta e procura pelos
moradores do bairro e de acordo com o crédulo e interesse de cada família. *Contratação de profissionais, de Monitores
Sociais de Recreação para os bairros, utilizando as quadras poliesportivas já
existentes. *Construção de novas quadras poliesportivas
nos bairros onde ainda não há. *Escolas de Circo, dança, ginástica, teatro...
para os adolescentes, através da contratação dos artistas e profissionais da
cidade pela CULTUAR. *Escolas de canoagem, natação e mergulho: é
necessário investir no potencial oferecido pela nossa bela região, com
atividades no mar, acionando os órgãos de segurança necessários para tais
atividades. *Formação
de Condutores Mirins (guias turísticos) com auxílio de bolsas de estudo
onde aprenderão sobre a história, geografia, cultura local e preservação
ambiental, bem como sobre a fauna e flora da Mata Atlântica e Marinha. Essa
ação gera renda para os adolescentes e suas famílias e cria identidade com o
local que moram e sua valorização. Obs: atividades físicas, como a prática de
esportes e outras de interesse dos adolescentes, liberam a endorfina (que é
hormônio do prazer). Este hormônio também é ativado pela droga. E também a
adrenalina liberada no organismo através das atividades de perigo e radicais.
Esse hormônio é uma necessidade dessa faixa etária. Daí, estar envolvidos em
situações de uso e envolvimento com as drogas e as situações de risco que
estas causam, traz a sensação que esse hormônio gera no organismo. É necessário
então, substituir esse prazer e desafio pelas alternativas de atividades
saudáveis. |
3- Atendimentos nos territórios: *informação, divulgação e mobilização das
crianças e adolescentes residentes nas ilhas e comunidades tradicionais. *Divulgação do CMDCA nos territórios. *Divulgação das atribuições do Conselho
Tutelar. |
O quê? Como? Para quê?
Por quê? |
|
4- Ações Intersetoriais: *Formação de grupos de apoio, orientações
terapêuticas psicossociais com assessoria permanente para os recursos humanos
ligados a política de atendimento à criança e o adolescente. *Fomentar a formação de um grupo intersetorial
com o objetivo de discutir política de proteção integral. *Apoio as crianças e adolescentes desligadas
do serviço de acolhimento institucional. .Programa de erradicação do trabalho infantil. .Analfabetismo na adolescência. . Prevenção ao álcool e outras drogas na
infância e adolescência. *Projeto voltado a promoção, atendimento e
acompanhamento e ou tratamento ao uso abusivo de álcool e outras drogas. *Projetos que visem a disseminação de práticas
restaurativas e de mediação para resolução de conflitos no ambiente escolar. *Iniciativas e ações voltadas ao estímulo para
a qualificação profissional dos adolescentes. *Apoio à entrada no mercado de trabalho e
geração de renda dos adolescentes. *Projetos que incentivem a busca ativa de
crianças e adolescentes evadidos do sistema educacional. *Projetos que incentivem a frequência escolar
das crianças e adolescentes. *Projetos que incentivam o retorno dos
adolescentes ao sistema educacional. |
O FMDCA prevê recurso para ações permanentes? Ações intersetoriais previstas no Plano
Decenal Socioeducativo: *Incentivo ao protagonismo, participação e
autonomia dos adolescentes; *Criação de mecanismos de prevenção, mediação
de conflitos e práticas restaurativas; *Garantia de oferta e acesso à educação de
qualidade, atividades esportivas de lazer e cultura e profissionalização. Como se daria esse apoio às crianças e
adolescentes desligadas do serviço de acolhimento institucional, sabendo que
segundo estatísticas são as que mais se envolvem com situações de risco e
vulnerabilidade? Não vemos ações concretas que tragam ocupações
aos nossos jovens e adolescentes que os afastem das situações de
vulnerabilidade e que os façam não evadirem da escola. Faz-se necessário um trabalho voltado para a
potencialização de suas habilidades e inteligências dentro e fora da escola.
Trazemos algumas proposições baseadas em estudos e pesquisas. |
*Escola
de Pais: Os pais devem participar dos encontros desde a sua matrícula na
creche, para que com essa parceria as crianças tenham um bom desenvolvimento,
através de palestras sobre os temas relevantes que melhorem o convívio e as
relações familiares. *Oficinas para as crianças matriculadas desde
a Educação Infantil até o 5º ano do Ensino Fundamental que apresentem
dificuldades no processo de alfabetização, no contra turno: Num esforço
conjunto do Poder Público e Sociedade Civil, essas oficinas podem ser
oferecidas pelos CRAS, Secretaria de Cultura e Esporte, Associações e Igrejas
nos bairros. * Valorizar e oportunizar o desenvolvimento de
suas inteligências. É nítido perceber nas crianças e adolescentes, o
potencial de liderança que pode ser aproveitado com responsabilidades e
tarefas, dando oportunidade para que sejam e que aprendam a fazer, para que
aprendam a fazer fazendo. A escola então, torna-se precursora da pulsão
pela vida de nossas crianças e adolescentes criando vários projetos com eles
que serão os próprios protagonistas. *Educar de forma afetiva crianças e jovens,
modificando fatores pessoais predisponentes, busca melhorar ou desenvolver a
autoestima, a capacidade de lidar com a ansiedade, favorece a habilidade de
interagir em grupo e também resistir à pressão de grupos. Favorece o
desenvolvimento do aprendizado de disciplinas de professores afetivos. Esta
metodologia favorece o surgimento de educadores mentores, facilitando o
relacionamento, principalmente se este mentor for uma figura masculina, pois
muitos adolescentes não têm pai. * Organizar ao término de um período de
atividades, uma apresentação aos pais é muito importante para reafirmar a
valorização por suas conquistas e descobertas (seja na escola, igreja ou
atividades comunitárias e ONG’s). *Projeto
Pequeno Empreendedor: os
adolescentes aprendem um ofício, utilizando materiais alternativos e
reaproveitando materiais, recebendo cursos de noções básicas de logística,
gestão financeira, administração e sustentabilidade ambiental para gerir seu
futuro negócio ou cooperativa. (mais detalhes, vide anexo). |
5 - Campanhas: . Combate contra o abuso e à exploração sexual
de crianças e adolescentes. *Projeto apadrinhar. *Campanha do fundo amigo. *Campanhas educativas DST/AIDS, gravidez na
adolescência. |
|
Campanhas permanentes e não mais pontuais em
datas específicas como tem sido realizadas. Mobilizar a sociedade e igrejas acerca do Projeto
Apadrinhar. *Mobilizar a sociedade e empresas sobre o
Fundo Amigo permanentemente. |
ALGUMAS
PROPOSTAS PARA QUE POSSAMOS AUMENTAR A REDE DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO
ADOLESCENTE
Proteção
na gestação, por quê?
A gestação é a primeira fase da vida
do ser humano. É neste período que se estabelece diretrizes para a qualidade de
vida do novo ser. Nós já nascemos com uma base genética que poderá ser
determinante para a vida do indivíduo ou não.
Quando tomamos consciência que em
nosso código genético existe probabilidade de desenvolvimento de doenças por
herança genética, podemos evitar determinados alimentos ou escolher alimentos
específicos que irão minimizar ou curar determinados problemas de saúde. A mãe que tem esta consciência já muda sua
alimentação na gravidez, buscando alternativas para que seu filho nasça
saudável e tenha um bom desenvolvimento.
Uma vez inseridos em uma comunidade
da periferia do município, temos observado que diversas famílias assim como em
grande parte das comunidades do município, têm histórico de diversas violências
e abandono. Esta situação vivida por várias gerações de uma família pode vir a
ocorrer uma mutação genética no DNA daquela família.
De acordo com o Dr. Ciro Martinhago,
o estresse pode alterar o DNA e envelhece mais rápido. Essas mudanças acontecem
na cabeça do DNA que se chama telômero. Esses telômeros começam a se encurtar
por conta do estresse. Esta situação favorece mudança fisiológica no corpo, que
faz aumentar doenças relacionadas ao envelhecimento, como: doenças
cardiovasculares, diabetes, câncer, enfraquecimento do sistema imunológico e
outros problemas de saúde.
Que
alterações o estresse pode causar no bebê?
Em pesquisas recentes realizadas com
ratos na Escola de Farmácia da Universidade Hebraica de Jerusalém, foi
observado que:
●
Os
filhotes têm a capacidade de memória e de aprendizado reduzidos;
●
Tem
maior dificuldade em lidar com situações adversas;
●
Também
foram observados sintomas de ansiedade e de comportamento depressivo.
Segundo WeistockRosin todos estes
sintomas verificados nos testes de laboratório, podem ser observados em
crianças cujas mães sofrem estresse durante a gravidez. Outro fator que precisa
ganhar destaque durante a gestação é a questão da gravidez indesejada. Neste
momento acontece uma rejeição à criança que está sendo gerada.
Embora seja um momento especial para
muitas mulheres, para outras é uma situação muito difícil, quando a chegada de
um filho não estava nos planos. Em casos assim, algumas gestantes choram muito,
principalmente nos primeiros meses da gestação, e até cogitam o aborto. A
mulher também pode ter sintomas como náuseas, vômito, sangramento vaginal e
cólica. Essa é uma maneira inconsciente que o corpo encontra de tentar rejeitar
o feto.
O médico pediatra Laurista Corrêa Filho foi um dos idealizadores
de um grupo de estudos multidisciplinar sobre o acolhimento de mães gestantes
que rejeitavam seus bebês. Este trabalho cresceu tanto que o grupo começou a
prestar consultoria para o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de
Pediatria, além de fazer palestras em vários estados brasileiros.
"Até então, o paradigma
existente era a parte física, diagnóstico e tratamento. A parte de saúde mental
ficava para trás",
lembra o médico. A Associação Brasileira de Estudos para o Bebê foi fundada em
Brasília em decorrência do movimento. O médico afirma que uma gravidez não
desejada pode gerar uma criança problemática. "A pior doença do futuro é a mental", adverte. Segundo
ele, o reconhecimento de que todos os sentidos do bebê já funcionam mesmo antes
do nascimento era até então apenas uma suposição, que foi comprovada
cientificamente. A maneira como a mãe reage à gestação é fundamental para a
formação da criança, garante o médico. Por isso, a comunicação com o bebê é
muito importante. Com estas informações temos a questão das heranças genéticas, o estresse, os malefícios da rejeição do bebê durante a gravidez.
Atendimento
médico especializado e atendimento terapêutico em grupo
As orientações às gestantes com
relação aos cuidados com sua gestação podem evitar vários problemas para a mãe
e também para o bebê, como baixa imunidade, baixa autoestima e vários outros.
Com orientações podemos aumentar o vínculo da mãe e filho evitando violência
física e psicológica.
Com
a valorização do bebê pela demonstração de afeto podemos evitar problemas
cognitivos. As orientações quanto ao não uso de álcool e drogas durante a
gravidez podem evitar que as crianças desenvolvam síndromes, deficiências e
problemas cognitivos que na maioria das vezes só serão detectados quando a
criança chegar à idade escolar e neste período os estímulos já são tardios.
As gestantes precisam de
atendimentos com médicos especialistas e não por enfermeiros que só irão pesar
as mães e ouvir os batimentos cardíacos, sem nem saber o que se passa com esta
mãe.
Para isto estamos sugerindo os Atendimentos Terapêuticos em Grupo com
no mínimo dois profissionais, como fonoaudiólogo, assistente social, psicólogo,
médico e outros. O objetivo deste grupo é dar apoio às gestantes, ajudá-las a
criar o vínculo com seus bebês, principalmente para as futuras mamães
adolescentes, minimizando os traumas da rejeição que é tão maléfico para a vida
dos pequenos que estão sendo gerados sem planejamento.
Este grupo também deve dar
orientações quanto aos malefícios do uso de álcool e drogas na gravidez, bem
como quanto aos prejuízos físicos, emocionais e cognitivos para os bebês;
dialogar sobre o parto; sobre os benefícios do parto normal e o direito ao
plano de parto; a importância da amamentação, da alimentação saudável e dos
cuidados em geral com o bebê. Orientar
sobre a importância da estimulação precoce para um bom desenvolvimento
cognitivo, bem como os efeitos benéficos sobre os elogios, contrapondo a
violência psicológica.
Sabemos através de pesquisas
recentes que o nosso cérebro é modulado através de estímulos. Uma criança que
no primeiro momento é rejeitada no ventre, mas a mãe recebe motivações para
criar vínculo e depois ao nascer esta criança recebe estímulos diversos, o
quadro de saúde da criança com predisposições de doenças mentais, pode ser
revertido por conta das estimulações.
Em experiências realizadas com
ratos, a neuroanatomista americana Dr. Marian Diamond foi capaz de demonstrar
que os animais que foram criados em um ambiente enriquecedor -- uma gaiola
cheia de brinquedos e dispositivos tais como bolas, rodas, escadas, rampas,
etc. -- desenvolviam um córtex cerebral significativamente mais espesso do que
aqueles criados em um ambiente mais limitado, sem os brinquedos ou vivendo
isolados.
O aumento da espessura do córtex não
era devido apenas a um maior número de células nervosas, mas havia também um
aumento expressivo de ramificação de seus dendritos e das interconexões com outras células. Portanto, a
educação de crianças em um ambiente sensorialmente enriquecedor desde a mais
tenra idade pode ter um impacto sobre suas capacidades cognitivas e de memória
futuras. A presença de cor, música, sensações (tais como a massagem do
bebê), variedade de interação com colegas e parentes das mais variadas idades,
exercícios corporais e mentais podem ser benéficos (desde que não sejam
excessivos).
Na verdade, existem muitos estudos
mostrando que essa "estimulação precoce" é verdadeira. Com
estas informações, muitos problemas podem ser evitados para mães e filhos se
forem estimuladas a compreenderem estes temas, por isto tão importante estes
grupos de apoio para as gestantes.
Estes grupos podem ser organizados pelos
postos de saúde no ato do pré-natal, basta o governo municipal priorizar em
investir na primeira infância, já que a CRIANÇA
é PRIORIDADE ABSOLUTA em nossa
Constituição Federal e no ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.
Treinamento
para o parto normal - Direitos da Parturiente/ Orientações
Como as gestantes se sentirão seguras para terem seus filhos através do
parto normal se elas não são orientadas pra isto? Acompanhamos algumas
gestantes e colhemos alguns depoimentos mediante algumas perguntas:
●
Você
fez pré-natal em posto de saúde?
●
Como
funcionam os atendimentos nos postos de saúde?
●
Quem
atende a gestante?
●
Você
recebeu orientação sobre os benefícios do parto normal? Você foi convidada a
conhecer a maternidade e se sentir segura para este momento?
●
Recebeu
alguma orientação sobre a importância da amamentação?
●
Participou
de alguma roda ou grupo terapêutico com relação aos cuidados com o bebe e a
importância de se construir uma relação afetuosa com o bebezinho que está
chegando?
Relatos
de situação de Violência Obstétrica em nosso município
A seguir, registramos alguns relatos
de mulheres de Angra dos Reis que tiveram seus direitos violados na hora do
parto. Estas situações acontecem todos os dias em nossa cidade. Quais as providências que serão tomadas
sobre esta situação?
A Revista Época destaca vários
depoimentos de mulheres que foram violadas em seu direito há um parto saudável.
O dossiê foi entregue ao STF sobre este problema. Não podemos nos calar.
Queremos saúde para as mamães e seus bebês.
Relato
1: A. P. 34 anos
“Meu
nome é A. P, hoje tenho 34 anos. Vou contar minha experiência gestacional pré e
pós-parto. Tive meu primeiro filho com 18 anos o pré-natal foi ótimo, o médico
muito atencioso fazendo tudo o que precisava, dando muita atenção, me
explicando tudo com detalhes.
Fiquei muito satisfeita com o pré-natal,
mas quando chegou no parto eu tive umas complicações/dificuldades e acho que
fui muito mal entendida e mal atendida. Os enfermeiros e o médico muito mal
preparados. Cheguei a ouvir o seguinte comentário de um deles: “na hora de fazer foi bom!”... As
enfermeiras foram muito frias. Só a equipe de psicólogos que me atenderam bem
naquele dia.
Meu
primeiro filho tem hoje 15 anos e o segundo veio algum tempo depois, já com 28
anos. Ele tem 6 anos hoje e novamente eu passei pela mesma coisa, pelo mesmo
descaso. Dessa vez por uma médica que não me deu a atenção que eu precisava e o
meu parto foi muito sofrido. O bebê estava com circular de cordão. Eles não me
atenderam de maneira correta... Enfim eu tive que esperar mais de 12 horas o
próximo plantão que me acolheu e o atendimento mudou ‘da água para o vinho’
tanto a equipe médica quanto enfermagem parecia que era tudo novo e a realidade
era que o meu filho estava em sofrimento e eu quase morri no parto e o bebê
também.
As
duas experiências foram muito traumáticas para mim. Até hoje eu lembro e não
fico bem com as lembranças. Foram momentos bem difíceis e que eu não desejo
para ninguém passar, porque a gente tem na nossa cabeça que o parto é um
momento mágico, um momento único, só você e seu filho, de muito aprendizado, de
muita conexão, muita interação, muito amor...
Infelizmente
não foi isso que eu vivi dentro da maternidade.
Maternidade essa que era para acolher, para ter mais empatia, apoio para
a mulher... e não trata a mulher como prioridade. Lamentável, mas é a nossa
realidade e não é de agora que a gente escuta relatos assim chocantes.
Infelizmente eu sou mais uma na estatística!
Espero que com esse depoimento a gente consiga mudar essa realidade e trazer um
esperança para essas mães, essas novas mães ou mães que já tenham filhos, mas
que merecem todo o respeito, todo carinho, principalmente na hora do parto e
essas crianças que estão nascendo também. Já traumatizadas muitas vezes no
ventre e na hora do parto também. Espero que meu relato venha servir para
melhorar essa situação.
Relato
2: M. S. G
“As
22:48 do dia 14 de março de 2018 a minha bolsa estourou e fiquei muito feliz e
apreensiva pois chovia muito e havia acabado a luz. Mas Deus em sua infinita graça permitiu que
eu conseguisse chegar até a maternidade em Angra. Ao descer do carro já com
bastante dor, chamei na porta e eles abriram pra eu entrar. Eu estava
acompanhada da minha filha M.C. que acompanhou todo processo de atendimento e
internação.
No momento que fui atendida eu estava com 6
dedos de dilatação e logo pulou pra 7. A médica Y, do plantão daquela noite me
disse que logo, logo eu estaria com meu bebê nos braços e me mandou pra sala de
pré-parto, onde passei os piores momentos da minha vida ao lado da minha filha
que me deu todo apoio.
Comecei a sentir dores horríveis e muita
contração e chamava a médica, mas ela e as enfermeiras não se importavam. Minha filha perguntou se podia me dar água
porque eu estava quase desmaiando e elas disseram que nem água, nem banho nem
nada, e eu não podia sair daquela cama pra nada. Ali eu que tenho problema de
pressão alta, vi a morte de pertinho e gritava e a médica nem aí... Me senti
num total abandono no hospital. Os médicos nem lá ver foram e nem verificar
minha pressão...Nada !!! Eu achei que ia
morrer!
Eu
dizia a minha filha M. C. para cuidar da irmã que ia nascer antes de
desmaiar... Pois não conseguia respirar mais, estava tudo rodando e minha filha
me dava força! Foi quando eu busquei
força de onde não tinha e comecei a fazer forca, naquele momento sofrido,
fiquei sozinha fazendo força, sem a ajuda de nenhum médico ou enfermeira...
Ninguém da maternidade, e eu ali gritando de dor e elas da equipe médica nada
de me ajudar.
Sei
que as horas foram passando e eu ali sofrendo de repente senti algo descer e
minha filha começou a gritar a médica Y porque a cabeça do bebê havia descido e
ela não sabia o que fazer e eu lá gritando de dor e fazendo força. Nesse
momento a médica Y veio correndo e me fez descer da cama e correr até a sala do
parto! Pra mim foi horrível, pois senti aquela cabeça tipo voltando pra dentro
e minhas pernas não respondiam e mesmo assim fizeram isso comigo e quando achei
que tudo ia passar, que fosse ver meu bebê e acabar aquela dor... Foi aí que
tudo piorou e fui mais maltratada e humilhada... Me senti um nada!
Na
hora que me levaram pra sala de parto, me maltrataram ainda pior! Aquilo foi
tortura e contarei em detalhes agora... Eu deitei na cama e mandaram eu fazer
força. Senti meu bebê me rasgando por baixo a cada contração e a doutora nem
uma anestesia embaixo que se costuma dar pra poder cortar, pro bebê passar ela
deu... Senti meu bebê sair me rasgando toda: vagina... Ânus... Tudo! Depois
ainda senti a doutora Y me cortar sem anestesia sem nada, como se tivesse
cortando um trapo velho! Aí eu gritava!
Gritava!
Naquele
momento eu senti que elas podiam fazer o que quisessem comigo, pois estava tão
desprotegida! Meu marido não estava lá para me proteger ou lutar em minha
defesa e em defesa do nosso bebê.
Aí
meu bebê nasceu e uma senhora da equipe da doutora Y começou a gritar comigo
que eu havia quebrado os bracinhos da minha filha no parto e que eu era doida e
que eu ia pro quarto sem dor e a minha pequena S. ficaria sentindo dor por eu
ter quebrado os braços dela ao sair pela minha vagina... Eu me senti a pior mãe do mundo, pois não
queria nunca ter machucado ela! (Choro...) Desculpa... Isso mexeu muito comigo!
A enfermeira começou me tratar muito mal e dizer que eu tinha que ficar pra
levar pontos.
A
doutora Y começou a me dar pontos que pra mim doía mais que toda a humilhação
que eu estava passando ali... Ela parecia sentir prazer em me machucar, de me
ver com dor!! Deu os pontos sem nenhuma anestesia e eu sentia aquela agulha
entrando em mim e saindo até terminar!
Depois desse sofrimento ainda cheia de dor por baixo e me sentindo
desprotegida e com. muito medo, ainda
tive que aguentar ela pegar um pano grosso e esfregar naqueles pontos que havia
acabado de receber sem anestesia... Ela, a doutora Y, esfregava com força e
sorria enquanto eu chorava! Me tremia toda... gemia... Mas eu sabia que ninguém
podia me ajudar porque eu estava tão só que eu achei que Deus tinha me
abandonado! Fui pro quarto destruída, humilhada e meu psicológico abalado.
Ela
(a doutora Y) me fez ter um bebê de 4 quilos e 265 gramas de parto normal e sem
anestesia nenhuma, nem na hora que me cortou ou na hora que deu pontos. Toda vez que lembro, meu
psicológico fica abalado!
Nunca
fui tão humilhada! Acho que nunca mais serei uma pessoa normal. Sinto dores
horríveis hoje... Com 8 dias de parto normal! Mas estou viva! Mas sei que
jamais esquecerei... Com riqueza de detalhes!”
Relato
3: R. C.
R.
“Então...
Estou decepcionada com o tratamento que a Maternidade Santa Casa nos oferece.
Minha bolsa estourou era exatamente 22:29 do dia 12 de março de 2018. Cheguei
na maternidade por volta de 23:20 já sem água. Entrei em trabalho de parto de
madrugada, mais ou menos meio dia já estava com 4 e meio de dilatação.
Começou
a visita era 14h, ai começou o meu desespero porque bem nesse horário me
colocaram no medicamento para induzir o parto para constrangimento da gente
paciente, pois é muita dor. Me levaram para a sala de pré-parto e lá me senti humilhada,
pois não tinha acompanhante e vi o quanto faz diferença.
Eu
sou do Rio de Janeiro e aqui em Angra eu só tenho Deus e meu esposo. Tinha
enfermeira que ficava todo o tempo no telefone e eu ali gritava ela clamando
por ajuda e ela simplesmente de forma irônica e debochada, dizia que já estava
ajudando, mas nem perto de mim chegava e nem chamava um médico. Conclusão:
liguei para o meu esposo alegando maus tratos.
Então,
meu esposo arrumou uma pessoa que estava na visita e viu todo o meu sofrimento
e se disponibilizou em ficar de acompanhante comigo. Neste momento começaram a
me visitar mais. Mas, não adiantou muito pois tiraram o direito do meu esposo
participar do parto, me mandando fazer forças ali mesmo e não me levaram para
sala de parto.
Conclusão:
pari sozinha na sala de pré-parto! Sonhei com uma coisa e por maus tratos,
desses que se dizem profissionais, aconteceu outra! Lamentável situação... Meu
filho passou do tempo de nascer, os olhos dele vieram cheios de sangue pisado,
pois já estava sem água de parto. Algo estava acontecendo, mas eles não me
passavam o que era, e posso dizer que é um milagre meu filho estar aqui nos
meus braços. Não recomendo essa maternidade para minhas amigas.”
Mas
afinal de contas existe VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?
Infelizmente há uma violência
silenciosa em nossa sociedade que acontece em um momento que a mulher está
fragilizada. Num momento em que a mulher precisa de todo apoio, compreensão,
força, um ambiente tranquilo e favorável para que consiga dar à luz ao novo
ser, mas nem sempre é assim.
Para agilizar o parto e forçar o
nascimento do bebê, a mãe pode fraturar as costelas e também pode haver
deslocamento da placenta, já o bebê pode sofrer traumas encefálicos. Segundo D’
Aguiar e D’ Oliveira (2011), a violência institucional nas maternidades
públicas brasileiras é determinada, de certa forma, por uma violência de
gênero, transformando diferenças, como ser pobre e mulher, em desigualdades.
Violência obstétrica caracteriza-se
pela apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos
profissionais de saúde através do tratamento desumano, abuso da medicação e
patologização dos processos naturais, causando a perda da autonomia e
capacidade de decidir livremente sobre seus corpos e sexualidade, impactando negativamente
na qualidade de vida das mulheres.
Em outra pesquisa
realizada por Rocha e Grisi (2017) com sete puérperas do município de Vitória
(BA), também foi constatado, por meio de entrevista gravada, seguida de um
roteiro estruturado, que a V.O é um tipo de violência psicológica que ocasiona
traumas nas mulheres e acabam desenvolvendo a depressão pós-parto.
A
violência obstétrica na gestação
Toda mulher tem direito a um
pré-natal de qualidade, e este é um direito que visa à saúde e ao bem-estar não
apenas da mulher, mas também da criança. A violência obstétrica durante a
gestação pode se caracterizar por:
•negar atendimento à mulher ou impor
dificuldades ao atendimento em postos de saúde onde é realizado o
acompanhamento pré-natal;
•comentários constrangedores à mulher, por sua
cor, raça, etnia, idade, escolaridade, religião ou crença, condição
socioeconômica, estado civil ou situação conjugal, orientação sexual, número de
filhos, etc.;
•ofender, humilhar ou xingar a
mulher ou sua família;
•negligenciar o atendimento de
qualidade;
•agendar cesárea sem recomendação
baseada em evidências científicas, atendendo aos interesses e conveniência do
médico.
A
violência obstétrica no parto
No Brasil, toda mulher tem direito a
um acompanhante de sua escolha durante todo o período de duração do trabalho de
parto e pós-parto, além de ser tratada com dignidade e ter garantida sua
integridade física e psicológica. As formas mais comuns de violência obstétrica
no parto são:
• recusa da admissão em hospital ou
maternidade (peregrinação por leito);
• impedimento da entrada do
acompanhante escolhido pela mulher;
• procedimentos que incidam sobre o
corpo da mulher, que interfiram, causem dor ou dano físico (de grau leve a
intenso). Exemplos: soro com ocitocina para acelerar o trabalho de parto por
conveniência médica, exames de toque sucessivos e por diferentes pessoas,
privação de alimentos, episiotomia (corte da vagina), imobilização (braços e
pernas), etc;
• toda ação verbal ou comportamental
que cause na mulher sentimentos de inferioridade, vulnerabilidade, abandono,
instabilidade emocional, medo, acuação, insegurança, dissuasão, ludibriamento,
alienação, perda de integridade, dignidade e prestígio;
•cesariana sem indicação clínica e
sem consentimento da mulher;
•impedir ou retardar o contato do
bebê com a mulher logo após o parto, impedir o alojamento conjunto mãe e bebê,
levando o recém-nascido para berçários sem nenhuma necessidade médica, apenas
por conveniência da instituição;
•impedir ou dificultar o aleitamento
materno, impedindo amamentação na primeira hora de vida, afastando o
recém-nascido de sua mãe, deixando-o em berçários onde são introduzidas
mamadeiras e chupetas etc.
O que
existe de orientação jurídica sobre este tema?
O tema encontra respaldo no § 6º do
art. 37 da Constituição Federal de 1988, bem como no art. 43 do Código Civil. O
Art. 37, § 6º diz que “as pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos
que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.”
Já o Art. 43 do Código Civil prevê
que “as
pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por
atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado
direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes,
culpa ou dolo.”
De qualquer forma, quando se tratar
de violência obstétrica ocorrida no âmbito do sistema público de saúde, a
vítima deverá se voltar contra o Estado, e não diretamente contra o médico.
Isto porque, o ordenamento jurídico pátrio aplica a chamada ‘teoria da dupla
garantia’, no qual a vítima só pode responsabilizar o Estado, e somente este
último pode regredir contra o agente, tendo em vista que quando este atua, sua
atividade está revestida em tese, de atos estatais, sendo assim, não poderia a
vítima responsabilizar desde logo o profissional de saúde que a prejudicou.
Além disso, entende-se que o Estado
é solvente, ou seja, possui condições e recursos de indenizar a vítima, ao
contrário do servidor, que poderá enfrentar dificuldades financeiras para
saldá-lo. Assim, uma vez comprovada a culpa do servidor público causador do
dano, o Estado, condenado a indenizar a vítima, a priori, poderá se voltar
contra este agente em ação de regresso.
Por todo o exposto, há de se
concluir que a responsabilidade civil por parte do Estado será sempre objetiva,
isto é, sem a necessidade de se comprovar dolo ou culpa, uma vez que este deve
responder pelos atos praticados por seus agentes públicos. (Texto extraído do
site Conteúdo Jurídico).
Amparo
as mães e bebês nos primeiros anos de vida
Muitos são os temas que podem ser
tratados para ajudar os responsáveis na relação com seus filhos. Esta ação pode
ser realizada nos CRAS e também por associações, sociedade civil organizada,
igrejas, quando tiver pessoal especializado e com o enfoque de Escola de Pais/
Roda de Conversa, contando com a colaboração dos seguintes profissionais:
Psicólogos, Pedagogos, Psicopedagogos ou Assistente social, pelo menos dois
profissionais para cada roda de conversas; Campanhas realizadas pelo CMDCA e
outros.
Sugestões
de temas que podem ser explorados nestas rodas de conversas:
*Como ajudar o bebê a se
desenvolver;
*A importância da estimulação nos
primeiros anos de vida – teoria e prática;
*A importância do brincar;
*A importância do elogio nas
primeiras descobertas;
*A teoria do apego;
*Os hormônios do bem e da raiva
(DOSE¹ e CACA²);
*Evitando acidentes domésticos;
*Quem ama cuida/ Amor e disciplina;
*Conhecendo a violência doméstica e
seus traumas;
*Conhecendo a violência psicológica;
*Conhecendo a violência sexual e
seus sintomas, entre outros temas que poderão ser desencadeados conforme a
necessidade.
¹
Estamos chamando de DOSE, os hormônios Dopamina, Ocitocina, Serotonina e
Endorfina, que produzem bom humor, alegria, bem-estar e prazer. ²Estamos
chamando de CACA, os hormônios Cortisol e Adrenalina que produzem
agressividade, raiva, tristeza, sentimentos depressivos, etc.
Como
prevenir prejuízos físicos, emocionais, cognitivos e diversos tipos de
violências se os pais não recebem informações que irão dar suporte para a essa
prevenção?
Ouvindo alguns funcionários dos
CRAS, foi relatado sobre o desinteresse das famílias que recebem o auxílio
Bolsa Família e que são assistidas pelos CRAS, mas na hora das palestras não
comparecem. Uma forma de melhorar essa frequência e participação das famílias
seria vincular esses encontros como condição para a continuidade do recebimento
do auxílio Bolsa Família, como também uma parceria entre a Secretaria de
Educação e o CRAS, em relação dos dados de infrequência já levantados e
informados pela escola, pois se uma criança está faltando muito à escola,
alguma situação pode estar acontecendo com esta família.
Sabemos que o número de unidades de
CRAS existente no município e as equipes dos CRAS (número de funcionários) são
insuficientes para estas ações. E outra situação é que um CRAS não tem
condições de atender a um número grande de escolas.
Dependendo da comunidade, a
quantidade de alunos é muito grande para que a equipe do CRAS possa atender. É
impossível fazer uma REDE de PROTEÇAO com esta parceria se tivermos uma equipe
tão pequena para uma Rede tão grande. O que está faltando é INVESTIMENTO NA INFÂNCIA que é PRIORIDADE ABSOLUTA pela nossa
Constituição e pelo ECA. Por que as LEIS
EXISTEM E NÃO SÃO CUMPRIDAS? Precisamos enquanto REDE refletir sobre este
assunto e mudar de atitude.
Creche
e Educação Infantil/ Escola de Pais
Faz-se necessário capacitar toda a
equipe das creches e escolas sobre os cuidados com a Primeira Infância e
prevenção da violência institucional que pode marcar a criança. Estas marcas
podem deixar traumas e causar bloqueios na aprendizagem.
Todos os funcionários da escola
devem estar atentos aos sinais. Todos os profissionais com orientação podem
ajudar a identificar qualquer sinal de violência ou negligência. As crianças
são o espelho da família e logo podem dar sinais de que alguma coisa não está
bem.
Escola de Pais: Os pais devem participar dos
encontros que a creche ou escola de Educação Infantil venha a oferecer para que
com essa parceria as crianças tenham um bom desenvolvimento, através de
palestras sobre os temas citados acima. Os pais que não participarem dos
encontros, deverão ser arguidos. Os pais que continuarem ausentes dos encontros
devem ser encaminhados ao Conselho Tutelar, configurando-se negligência
(conforme Art. 5º do ECA e Art. 246 do Código Penal). Esta família já está vivendo em algum
risco.
Se todos os
profissionais que lidam com as crianças levarem a sério estas orientações,
muitos problemas serão evitados na infância, principalmente com ralação as
violências e com relação à inserção das crianças e adolescentes no mundo das
drogas. Devemos cercar as crianças com muro de cuidados de todos os lados
Oficinas
para as crianças matriculadas na Educação Infantil no contra turno:
Num esforço conjunto do Poder
Público e Sociedade Civil, essas oficinas podem ser oferecidas pelos CRAS,
Secretaria de Cultura e Esporte, Associações e Igrejas nos bairros.
As crianças de nosso tempo estão
muito espertas, são curiosas e várias já têm o mundo em suas mãos acessando a
internet, vendo desenhos, participando de jogos. O conhecimento está exposto
para quem quiser adquiri-lo e isto também acontece com a criança. Ela é muito
criativa e está ávida a aprender. É neste momento que as janelas de
oportunidade estão abertas para o aprendizado.
Precisamos como sociedade aproveitar
este tempo para que elas se desenvolvam oferecendo diversas oportunidades para
florescer suas inteligências, seus potenciais. Várias atividades podem ser
oferecidas a elas em seus bairros, como: rodas de histórias, oficinas de
brinquedo com material reciclado, aulas de música, aulas de artes com várias
técnicas, atividades esportivas, teatro, dança e outros.
As associações e igrejas podem
aproveitar sua mão de obra especializada ou não, usando suas dependências
também durante a semana, no contra turno das aulas (e sob observação e
acompanhamento da família) através de projetos com o foco na PREVENÇÃO,
utilizando várias atividades do interesse dos mesmos, como: música,
coreografias, danças, artesanatos, leitura, histórias, atividade recreativas ou
esportivas, peças teatrais, hortas...
Uma sugestão seria aproveitar
pessoas do corpo da igreja com formação de professores e realizar um trabalho
de recuperação/reforço escolar para crianças e adolescentes com dificuldades na
leitura e escrita no contra turno das aulas ou mesmo um horário alternativo,
mediante oferta e procura pelos moradores do bairro e de acordo com o crédulo e
interesse de cada família.
Nossas crianças precisam perceber
que os adultos as amam. Elas precisam conhecer e desenvolver seu potencial.
Esta é uma estratégia de prevenção às drogas. Na escola, por exemplo, ao
terminar um período de atividades que pode ser um bimestre ou um semestre,
organizar uma apresentação aos pais é muito importante para reafirmar a
valorização por suas conquistas e descobertas.
Quando
os mesmos não comparecem e não dão satisfação para a criança e nem para os
organizadores, eles estão mandando um recado. Eles estão “dizendo” que não se
importam com o que a criança faz. Se esta situação não muda, se as crianças
crescem com este sentimento, começam a se perguntar: Pra que eu vou estudar se
ninguém liga e se meus pais não se interessam com o que eu faço?
Entrando na adolescência com este
sentimento, começam a fazer tudo o que os pais não querem, escolhem amigos que
não são boas companhias somente para afrontar os pais e acabam se envolvendo
com as drogas. Todas as instâncias
da sociedade têm responsabilidades com esta situação.
A Escola
na luta pela Prevenção às Drogas
Quando damos oportunidade para que
as crianças desenvolvam suas inteligências, estamos falando para elas sem usar
palavras, como elas têm valor. A escola não pode se preocupar somente em passar
conteúdos, mas precisa dar oportunidade para que sejam e que aprendam a fazer,
para que aprendam a fazer fazendo.
Quando as crianças e adolescentes se
sentem valorizados pela família, pela sociedade, pela escola, terão muito mais
vontade de viver, terão mais vontade de estudar, de desenvolver algo que seja a
sua essência de vida e não irão querer faltar à escola, pois as aulas serão tão
interessantes que não vão querer perder nada. Quando a escola percebe isto, ela
pode ser a precursora da pulsão pela vida de nossas crianças e adolescentes
criando vários projetos com eles que serão os próprios protagonistas. Assim, a escola estará levantando um muro de
proteção contra as drogas de forma intrínseca, embutida nas ações e relações
interpessoais que fortalecem esses muros (como currículo oculto), sem falar em
projeto sobre as drogas, como é comumente feito.
Modelos de
Prevenção às Drogas para as Escolas
Mas, por que uma criança ou adolescente entra para o mundo das
drogas? Esta resposta é muito complexa, pois são vários os motivos. Além dos fatores
de risco relacionados ao uso de drogas, demonstrados no quadro no início
desse documento: fatores pessoais, familiares, escolares e sociais, segundo
SILVA (1997), há ainda outros fatores que favorecem o risco do adolescente ser
iniciado nas drogas:
●
A
falta de informação e de conhecimento sobre o uso e os efeitos das drogas, que,
por si só, incitam o desejo de satisfazer a curiosidade a esse respeito.
●
O
acúmulo de preocupações, adversidades e mazelas que levam à insatisfação com a
qualidade de vida que a pessoa está levando ou a que está submetida.
●
Problemas
de saúde que, de certo modo, levam à desesperança e ao desestímulo pessoal.
●
Conjunto
de hábitos e atitudes e as características do indivíduo, que determinam sua
personalidade, predispondo-o a diferentes reações em dada situação de contato e
relação com as drogas.
●
Facilidade
ao acesso que a pessoa tem às drogas.
●
A
influência de amigos e o ambiente de convívio com grupo de usuários.
●
A
desestruturação e a ausência de um núcleo familiar que acarreta falta de apoio,
proteção e carinho ao adolescente, levando-o à situação de risco como, por
exemplo, à vida nas ruas.
Estas informações são esclarecedoras
para uma maior compreensão sobre o porquê do envolvimento dos adolescentes com
as drogas e também para a realização de trabalhos preventivos. (SILVA, apud AGUIAR, 2013, p. 6).
Cabe ressaltar também que muitas crianças e
adolescentes acabam vendo no submundo das drogas pela falta de emprego, um
recurso financeiro acessível para resolver as questões de sua família e atender
suas necessidades básicas. Ele não entra para ficar, apenas para resolver o
problema imediato, mas acaba infelizmente sendo envolvido.
Existem vários modelos de prevenção
às drogas. Vamos destacar alguns que podem ser desenvolvidos na escola e
relacioná-los aos seus resultados.
1. Amedrontamento: Abordagem centrada na informação
dos efeitos negativos do consumo tem demonstrado ser ineficaz quanto ao
resultado esperado, pois o que é demonstrado em imagens, acontece com quem já é
um viciado crônico e não no início do uso, fazendo com que esta metodologia
fique em descrédito pelos estudantes.
2. Conhecimento
científico: Metodologia
imparcial com informações técnicas e científicas baseadas nas consequências.
Esta metodologia não provoca uma mudança de comportamento e não se efetiva um
relacionamento afetivo para com o estudante, pois é um palestrante e não uma
pessoa que já tenha criado um vínculo com aquele grupo.
3. Educação
Afetiva: Educar de
forma afetiva crianças e jovens, modificando fatores pessoais predisponentes,
busca melhorar ou desenvolver a autoestima, a capacidade de lidar com a
ansiedade, favorece a habilidade de interagir em grupo e também resistir à
pressão de grupos. Favorece o desenvolvimento do aprendizado de disciplinas de
professores afetivos. Esta metodologia favorece o surgimento de Educadores
mentores, facilitando o relacionamento, principalmente se este mentor for uma
figura masculina, pois muitos adolescentes não têm pai.
4. Metodologia
baseada em um estilo de vida saudável: Esta metodologia pode ser incentivada pela escola, pois
privilegia o auto cuidado incluindo atividades físicas, como a prática do
esporte, que libera a endorfina (que é hormônio do prazer). Este hormônio
também é ativado pela droga. Esta metodologia pode ser desenvolvida em forma de
projeto com o objetivo de pesquisar aos valores nutricionais dos alimentos, as
vitaminas contidas nos mesmos, quais as doenças que seriam evitadas com este
estilo de vida, pode ser um dos caminhos a se trilhar na prevenção às drogas,
acoplado a outros métodos.
5. Pressão
do grupo positiva:
Este método trabalha na formação de líderes capazes de influenciar seus pares
com o foco na prevenção e no abandono do consumo. E deve se promover e
incentivar a experiência em montar grupos de apoio dentro da escola e/ou com a
ajuda do CRAS.
6. Treinamento
de habilidades sociais.
Este método pretende melhorar as competências sociais, tornando o jovem mais
apto para enfrentar as dificuldades.
7. Oferecimento
de Alternativas:
Pretende oferecer alternativas interessantes e saudáveis, como desafios no
esporte, apresentações de tardes ou noites de Talentos, onde os pais poderão deverão
estar presentes, para prestigiarem a atuação de seus filhos.
Na fase da adolescência, segundo
Suzana Herculano, o adolescente necessita de desafio para ativar o Sistema de
Recompensa. Se este desafio não for ativado pelos mentores, eles poderão procurar
os desafios na vida e na delinquência.
Nesse sentido, segundo pesquisa
realizada por MOREIRA, VÒVIO e MICHELE (2015), para pensarmos a
prevenção/promoção de saúde no ambiente escolar, é preciso perceber a educação
para além de um processo de socialização e integração somente, mas concomitante
a um caminho a partir do qual se constroem sistemas normativos e valores para a
vida, marcando assim sua dimensão política.
Por conseguinte, o ambiente escolar
é caracterizado por relações de poder e pelo embate de ideias, e pela
circulação também de diversas concepções de educação. Acreditamos que os
princípios educativos que mais convergem para uma prevenção qualificada são
aqueles que se aproximam de uma abordagem libertadora de educação. Tal
abordagem caracteriza-se pela relação mais horizontal entre educador e
educando, sendo ambos considerados sujeitos da prática educativa, que se
desenvolve em um processo dialógico de construção de saberes pautada por
relações democráticas e preocupada com a construção de uma sociedade mais justa
e igualitária, com cidadãos aptos a tomarem suas próprias decisões. (FREIRE,
2005).
Sabemos que ações mais pontuais ou
até permanentes em relação a essa temática, são desenvolvidas em algumas
escolas em seu cotidiano, principalmente aquelas onde as situações de
vulnerabilidade são mais marcantes. Porém faz-se necessário a implementação de
um Currículo Oculto em todas as Escolas da Rede Municipal através de projetos
de prevenção às drogas com o foco na promoção da saúde física e mental,
desenvolvendo valores para a vida e ações para o desenvolvimento humano em todas as áreas.
Estes projetos visam melhorar a
autoestima da criança e do adolescente, fortalecendo o seu self para resistir aos apelos do uso de drogas. Faz-se necessário
um aprofundamento de estudo sobre este tema e transformá-lo na implantação e
execução dos projetos de Prevenção às drogas nas escolas com a participação de
alunos e educadores em todos os processos, onde a culminância das ações seja
realizada durante todo ano letivo como forma de desafios para os alunos, como:
campeonatos, concursos de desenho, música teatro, poesia; grêmios, intercâmbios
escolares com apresentações de seus trabalhos, corais, danças, pesquisas
apresentações de projetos de meio ambiente com o foco na preservação das nossas
áreas ambientais, levantamento de pesquisa histórica com as lendas de cada comunidade
principalmente das comunidades das ilhas, valorizando a nossa identidade.
Muitas outras ações podem ser pensadas coletivamente no decorrer de todo o
processo e os estudantes participando ativamente sendo os protagonistas dessas
ações.
Espaços
Especializados para criança e adolescentes com dificuldades de aprendizagem: parceria entre Poder Público
e Sociedade Civil
Centro
de Apoio ao Aprendizado:
Conforme apontado no documento rumo à qualidade da educação municipal, o Centro de Apoio ao Aprendizado seria um
espaço de diagnóstico e tratamento para crianças que têm dificuldade de
aprendizagem com Equipe Multidisciplinar: assistente social, psicólogo,
psicopedagogo (profissão que ainda precisa ser legalizada no município),
neuropediatra e musicoterapeuta para atendimentos individuais ou em grupos,
será excelente para estas crianças. Posteriormente, essa experiência poderá ser
ampliada para o município por regiões (descentralizando) para facilitar o
acesso de todas as crianças devido à geografia do município.
Cabe ressaltar também que muitas
dificuldades que a criança apresenta em seu processo de aprendizagem pode ter
diferentes origens: problemas e traumas advindos de sua vivência familiar, que
geralmente causam indisciplina e transtornos, inadaptação à metodologia adotada
pelo professor, falta de empatia pelo professor ou colegas de turma, sabendo da
grande interferência das relações interpessoais em todo o processo de
aprendizagem do sujeito. Vale mencionar que os professores que mais nos
marcaram positivamente, favorecendo nossa autoestima, com certeza foram aqueles
pelos quais tivemos bom relacionamento, desenvolveram seu trabalho num ambiente
afetuoso.
Nesse Centro, a criança será
diagnosticada quanto à origem de suas dificuldades através dos profissionais
especialistas e assim suas dificuldades serão sanadas e as escolas devidamente
orientadas para um trabalho mais direcionado e eficaz.
Centros
de desenvolvimento infanto-juvenis: CRAS, Associações e Igrejas. Dar oportunidade para crianças e
adolescentes desenvolverem seus potenciais de múltiplas Inteligências.
Promoção
do Protagonismo Infanto Juvenil em várias destas instâncias. Elas precisam ser ouvidas. Suas
opiniões precisam ser relevantes para a sociedade. Precisam ser valorizadas.
Associações
de Moradores:
aproveitar as ideias das crianças e adolescentes, levando as pautas de reuniões
e problemáticas dos bairros para as salas de aula e espaços na praça para que
elas ajudem a encontrar soluções, criem projetos, ...
Centros
de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo: Pareceria com empresas amigas da
criança que invistam em ações empreendedoras.
.
Secretaria
de Ação Social:
Atender aos adolescentes que estejam cumprindo medidas socioeducativas.
Conclusão:
Ao
final deste documento percebemos que mesmo com excelentes leis, ainda falta
muito para que nossas crianças verdadeiramente sejam respeitadas e cuidadas por
todos nós.
Mesmo
o ECA deixando bem claro que a criança é PRIORIDADE ABSOLUTA, se realmente
assim fosse, ela teria ensino de qualidade, atividades gratuitas no contraturno
da escola para desenvolver suas inteligências, por exemplo. Será que é tão
difícil investir hoje em nossos pequenos e desenvolver futuros adultos
atuantes, que se tornem pais de famílias felizes, profissionais brilhantes,
cidadãos conscientes de suas responsabilidades e seus direitos, investindo para
que eles sejam alegria de nossa cidade?
Está na hora de tudo aquilo que está
posto nos planos e leis municipais sair da teoria e ser colocado em prática,
pois se tudo que está previsto estivesse de fato acontecendo nossos índices
estatísticos de criminalidade, drogaticidade, situações infracionais e de
violências envolvendo nossas crianças e adolescentes seriam bem menores.
Precisamos garantir que essas ações já descritas em nossos planos de ação
municipais cheguem as nossas crianças e adolescentes para que a médio e longo
prazo esses índices venham diminuir.
As
crianças são o nosso maior patrimônio. Se investirmos nelas, teremos cantores,
esportistas, artistas da dramaturgia, das artes plásticas, músicos, defensores
do meio ambiente, educadores, médicos, juízes, políticos honestos, etc. Quantas
pessoas maravilhosas estariam sendo formadas! Mas se não investimos nas
crianças, o que teremos no futuro? As
crianças estão pedindo socorro. Quem irá socorrê-las?
Vimos ao longo desse documento, que "a política de atendimento dos direitos
da Criança e do adolescente se dá por meio de um conjunto articulado de ações
governamentais e não governamentais, e que a sociedade faz parte do eixo de
controle social, pois exerce papel relevante na efetivação dos direitos e
controle por meio das redes, fórum, pactos, movimentos sociais, pastorais,
igrejas, sindicatos e associações de classe, movimentos de bairro, ONGs, dentre
outros... Devemos trazer as discussões e decisões acerca das políticas públicas
para perto da população, evitando que se tornem políticas apenas de gabinete, e
que sejam construídas, dialogadas, deliberadas e avaliadas com ampla
participação da sociedade."
(Fonte: Direitos de crianças e adolescentes -
Guia de atendimento. CEDECA/UNICEF, Fortaleza 2007).
“Historicamente,
os direitos fundamentais foram conquistados através de movimentos da sociedade
civil imprescindíveis ao pleno exercício da democracia. Cabe à sociedade civil
exigir, pressionar, cobrar, criticar, propor e fiscalizar as ações do
Estado." (Fonte:
Programa Nacional de Direitos Humanos, PNDH-3, 2010).
Os textos citados referendam o objetivo desse
documento, uma vez que estamos cumprindo nosso papel de fazer chegar à
sociedade o conhecimento e a discussão através dos diferentes espaços e meios
possíveis, como espaços de discussão de saberes, de conhecimento e crítica.
Que esse material possa servir de canal, de
veículo, de mola propulsora de um verdadeiro movimento social em torno da
defesa e garantia dos direitos das crianças e adolescentes em nosso município!
Um esforço conjunto cujos frutos sejam referência para outros municípios.
Referências
Bibliográficas:
Alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf - Acesso em 29/10/20.
https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/viewFile/11771/1550
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832008000700013
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2012000300006&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762008000200003
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10608034/artigo-88-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990/
acessado em 07/09/2020
https://cerebromente.org.br/n11/mente/eisntein/rats-p.html
Aprendizagem
e mudanças no cérebro, Acesso em 15/09/ 2020
https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/repositorio/41/FOLDER_VIOLENCIA_OBSTETRICA.PDF
https://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/6646/
Violência
Obstétrica: Ofensa a Dignidade Humana
http://arqcientificosimmes.emnuvens.com.br/abi/article/view/232/115/
Marcas
do parto: As consequências psicológicas da Violência Obstétrica
https://www.scielo.br/pdf/ep/v41n1/1517-9702-ep-41-1-0119.pdf/
Acessado
em 30/10/2020
http://www.tjrj.jus.br/noticias/noticia/-/visualizar-conteudo/5111210/6409124
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
MARTINHAGO,
Dr. Caio Estresse pode alterar DNA e envelhecer mais rápido Revista Minha Vida
20/09/2018
PREFEITURA
MUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS, Secretaria Municipal de Assistência Social e
Direitos Humanos. PLANO DECENAL MUNICIPAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DA
CIDADE DE ANGRA DOS REIS – 2015 a 2024.
SANTOS,
Marta Sorvi dos, NORMAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E
DOS ADOLESCENTES, Apostila PROJETO LEGAL – ODH PL.
______.
GESTÃO DE POLÍTICA FINANCEIRA: PLANO DECENAL, FUNDO, PROGRAMAS E PROJETOS,
Apostila PROJETO LEGAL – ODH PL.
______.
GESTÃO DE POLÍTICA FINANCEIRA: PLANO DECENAL, FUNDO, PROGRAMAS E PROJETOS,
Apostila PROJETO LEGAL – ODH PL.
SANTOS,
Marta Sorvi dos IANNELLI, Andrea M. CONSTRUINDO A POLÍTICA DE DIREITOS HUMANOS
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE, Apostila PROJETO LEGAL – ODH PL.
Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República. Programa Nacional de Direitos
Humanos - PNDH- 3, 2010.
SEGUNDO,
R. Notas sobre o direito da criança. Jus Navigandi, Teresina, v.7.n.61, jan.
2003. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3626.
ANEXO
1:
POLÍTICAS
PARA ENFRENTAR AS FORMAS DE VIOLÊNCIAS:
-Política
Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências
(Portaria
nº 737/2001).
-
Política Nacional de Promoção da Saúde (Portaria nº 687/2006).
-
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – violência sexual e
doméstica.
-
Notificação de violências contra crianças e adolescentes na rede do SUS
(Portaria
nº 1968/2001).
-
Rede Nacional de Prevenção de Violências, Promoção da Saúde e Cultura de
Paz
(Portaria 936/2004).
-
Rede Nacional de Atenção Integral às Mulheres, Adolescentes e Crianças em
situação
de violência doméstica e sexual.
ANEXO 2:
Programa de Prevenção às Drogas da Islândia.
A Islândia ocupa hoje o primeiro lugar no ranking europeu no que toca à
adolescentes com um estilo de vida saudável. O país conseguiu mudar a tendência
por uma via que é ao mesmo tempo radical e empírica, e que se baseou naquilo a
que podemos chamar “senso comum forçado”. Se fosse adotado noutros países,
o modelo islandês poderia ser benéfico para o bem-estar psicológico e físico
geral de milhões de jovens. Isso sem falar dos orçamentos dos organismos de
saúde e da sociedade como um todo.
O professor de psicologia norte-americano Harvey Milkman que foi
recrutado pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA , disse:
“Qualquer aluno da faculdade poderia responder à pergunta sobre por que
se começa: é que as drogas são fáceis de conseguir e os jovens gostam de
riscos. Também é preciso ter em conta o isolamento e talvez a depressão”,
afirma. “Mas, por que continuam a consumir? Por isso, passei à pergunta
sobre o limite do abuso… e iluminei-me. Vivi minha própria versão do
‘eureka!’. Os jovens podiam estar à beira da dependência antes até de
tomarem a droga, pois o vício estava na maneira como enfrentavam os seus
problemas.”
Ao longo da sua carreira,
Milkman foi fundamental para o desenvolvimento da ideia de que a origem
dos vícios está na química cerebral. “As pessoas podem tornar-se
dependentes de bebida, do carro, dinheiro, sexo, calorias, cocaína… de qualquer
coisa”, diz Milkman. “A ideia da dependência comportamental transformou-se
no traço que nos caracteriza.”
Dessa ideia nasceu outra, a
ideia: “Por que não organizar um movimento social baseado na embriaguez
natural, em que as pessoas se sintam dessa forma com a química de seu cérebro –
porque me parece evidente que as pessoas desejam mudar o seu estado de
consciência – sem os efeitos prejudiciais das drogas?”
Em 1992, a sua equipe obteve
uma subvenção de 1,2 milhão de dólares do governo norte-americano para criar o
ProjectoAuto-descoberta. Os cientistas pediram aos professores, assim como às
enfermeiras e aos terapeutas de centros escolares, que lhes enviassem alunos. E
incluíram no estudo, jovens de 14 anos que não achavam que precisavam de
tratamento, mas que tinham problemas com drogas ou com crimes leves.
“Não lhes contamos que
vinham para uma terapia, dissemos que lhes íamos ensinar algo que quisessem
aprender: música, arte, dança, hip hop ou artes marciais”, explica. A ideia era que as diferentes
aulas pudessem provocar uma série de alterações na sua química cerebral que
lhes proporcionassem o que necessitavam para enfrentar melhor a vida.
Em 1991, Milkman foi convidado para falar sobre seu trabalho e as suas
descobertas na Islândia, onde conheceu o estudante de psicologia JónssonGudberg
e se tornaram parceiros nesse projeto de vida. E começaram a pensar o que
aconteceria se fosse possível utilizar alternativas saudáveis às drogas e ao
álcool dentro de um programa que não tivesse o objetivo único de tratar jovens
com problemas, mas, sobretudo, de conseguir que eles deixassem de beber e
consumir drogas.
Um questionário foi respondido pelos jovens para diagnosticar a
situação: “Já experimentaste álcool? Se a resposta for afirmativa, quando foi a
última vez que bebeste? Ficaste bêbado em alguma ocasião? Consumiste tabaco? Se
sim, quanto fumas? Quanto tempo passas com os teus pais? Tens uma relação próxima
com eles? Em que tipo de atividades participas?”
Em 1992, os jovens de 14, 15
e 16 anos de todos as escolas da Islândia preencheram um questionário com
perguntas como estas. O processo foi repetido em 1995 e em 1997. Os resultados
da pesquisa foram alarmantes, mas quando a equipe mergulhou nos dados,
conseguiu identificar os centros com mais e menos problemas. A análise expôs as
claras diferenças entre as vidas dos adolescentes que bebiam, fumavam e
consumiam outras drogas e as vidas daqueles que não utilizavam essas
substâncias. Também revelou que havia diversos fatores com um efeito
decididamente dissuasor: a participação, três ou quatro vezes por semana, em
atividades organizadas – sobretudo desportivas; o tempo que passavam com os
pais durante a semana; a sensação de que os professores do colégio se
preocupavam com eles; e não sair de noite.
A partir dos dados da
investigação, aos poucos foi introduzido no país um novo plano nacional: o
Juventude na Islândia. As
leis mudaram. Penalizou-se a compra de tabaco para menores de 18 anos e a de
álcool para menores de 20. Proibiu-se a publicidade das duas substâncias.
Reforçaram-se os vínculos entre os pais e os centros de ensino, mediante
organizações de mães e pais, que deviam ser criadas por lei em todas as escolas,
juntamente com conselhos escolares com representação dos pais.
A estes também foi pedido que comparecessem às palestras sobre a
importância de passar mais tempo com os filhos, assim como falar com eles sobre
as suas vidas, conhecer as suas amizades e ressaltar a importância de ficar em
casa de noite. Além disso, foi aprovada uma lei que proibia que os
adolescentes de 13 a 16 anos saíssem depois das 22h no inverno e da meia-noite
no verão. Norma que apesar de polêmica continua vigente.
Também aumentou o
financiamento estatal para clubes desportivos, musicais, artísticos, de dança e
os filhos de famílias com baixos rendimentos receberam ajuda para participar
nesse tipo de atividades. Em Reykjavik, onde mora um terço da população do
país, o chamado Cartão do Lazer dá direito a 35.000 coroas (cerca de 280 euros)
anuais por filho para custear atividades recreativas.
Um fator decisivo para os
valores atuais é continuidade dos inquéritos. Todos os anos, praticamente todos
os adolescentes islandeses os preenchem. Isso significa que há sempre dados
novos e confiáveis.
Entre 1997 e 2012, duplicou o número de adolescentes de 15 e 16 anos que
declararam que “com frequência ou quase sempre” passavam tempo com os pais ao
fim de semana – passou de 23% para 46%. Já a dos que participavam em atividades
desportivas organizadas pelo menos quatro vezes por semana subiu de 24% para
42%. Ao mesmo tempo, o consumo de cigarros, álcool e marijuana nessa mesma
faixa etária caiu drasticamente.
Outros países adotaram o programa da Islândia com êxito. E porque não
aqui, no Brasil? O Senado Federal já está debatendo a implantação deste
Programa em nosso país desde 04/09/2019.
Modelo de questionário da
Metodologia de Prevenção às Drogas da Islândia, aplicado a cada dois anos:
São
coletados dados sobre padrões de consumo, características das famílias, evasão
escolar e problemas emocionais dos jovens.
1. Você já experimentou álcool e ou
drogas? Qual (is)? Se a resposta foi afirmativa, quando foi a última vez que
bebeu ou usou drogas?
2. Ficou bêbado em alguma ocasião ou
muito alterado por causa do uso de drogas?
3. Já consumiu tabaco? Desde que idade?
Se sim, quanto fuma por dia? Ainda está fumando?
4. Quanto tempo passa com seus pais?
5. Tem uma relação estreita com eles?
6. De que tipo de atividade você
participa?
7. Gosta de música? Qual o tipo de
música ouve?
Há
20 anos, os adolescentes islandeses estavam entre os que mais bebiam na Europa.
Agora são exemplos para o mundo. A estatística mostra dados surpreendentes. A
taxa de jovens de 15 e 16 anos que consumiam em grandes quantidades (dados de
1998 3 depois em 2016):
19982016
Álcool 42% 5%
Canabis 17% 7%
Tabaco 23% 3%
(Pesquisa realizada por um grupo de
cursistas do Curso de Formação de Educadores Sociais do Instituto Mãos no
Arado: Missão, Cidadania e Criatividade, em 04/06/2019: Jordana, Lúcia e
Rosemeire.
Membros
fundadores e colaboradores do Instituto Mãos no Arado
Angra
dos Reis
Dezembro/2020